segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O movimento carismático após o Concílio Vaticano II

Artigo de D. TEODORO DE FARIA     in  Pedras Vivas
Certo dia, quando era Reitor do Pontifício Colégio Português em Roma, o sr. cardeal António Ribeiro diz-me que não almoçaria em casa, devido a ter sido convidado pelo sr. cardeal Suenens, para com outros cardeais, lhes falar do «Movimento Carismático».
Era muito conhecido o livro «Une Nouvelle Pentecôte?», (um novo Pentecostes), traduzido em inglês, italiano, alemão e espanhol do sr. cardeal L. J. Suenens, arcebispo de Malines - Bruxelles, na Bélgica, e a influência que exerceu em Roma junto de cardeais e do Papa Paulo VI, para conhecimento e aprovação pela Igreja Católica, do Renovamento Carismático.
O cardeal foi influenciado com a aparição em New York, em 1973, de um grupo de oração chamado «catholic pentecostal», que se reunia na Universidade dos Jesuítas em Fordham.
O cardeal, que no Concílio falara do despertar dos carismas na Igreja, e se preparava para escrever um livro «L’ Espirit Saint, notre espérance», renunciou publicar este livro, para dar atenção ao novo movimento que tanto o impressionara. Teve um encontro com o diretor espiritual Jim Ferry, padre de grande piedade na Legião de Maria, que animava então um grupo de religiosas «carismáticas».
Estes contactos, escreve o cardeal Suenens, «de um momento para outro deram-lhe a impressão que os Atos dos Apóstolos e São Paulo, se tornavam vivos e atuais e o que fora automaticamente verdadeiro no passado se produzia agora à frente dos olhos» (S. e E. pg. 214). Suenens encontrou-se com os membros, homens e mulheres, das comunidades de vida dos E. U. A. que os impressionou com a renovação da sua vida cristã.
Pensou, imediatamente, falar ao Papa Paulo VI de tudo o que vira e admirara. Numa audiência com Paulo VI, a 19 de Fevereiro de 1973, ao falar do Ano Mariano que teria o centro na Espanha ou no Brasil, entusiasmou o Papa a que o Congresso se realizasse em Roma e, nessa ocasião, pergunta a Paulo VI: «Conhece o movimento carismático», o Papa diz-lhe que não e o cardeal expõe-lhe durante uma hora e um quarto, um resumo do Movimento. Entusiasmado com a bênção do Papa, o Cardeal adianta-se: «Não poderia o Santo Padre que viesse o grupo carismático de oração, que já existe em Roma com os professores da Universidade Gregoriana, a fim de rezarem na vossa capela, diante de Vossa Santidade?»
Adianta Suenens: «Não poderia convidar um padre do Renovamento a pregar o retiro da Quaresma à Cúria Romana?»
O Papa falou de outros temas, acenando ao grande e profundo livro do teólogo ortodoxo Boulgakov sobre o Espírito Santo que iria ler, em breve, ao que Suenens sugere ao Papa o livro do grande teólogo H. Mühlen sobre o mesmo assunto.

O Espírito Santo e Maria

Para que o Renovamento se desenvolvesse na Europa precisava da aprovação de Roma, o coração da Igreja, para depois se estender a todo o mundo.
Organizou-se um Congresso de pessoas escolhidas e qualificadas, carismáticos de todo o mundo, junto de Roma, em Grottaferrata, que estava programado para Porto Rico.
A escolha de Roma, na visão de Suenens, era levar a Santa Sé a tomar uma posição pública perante o Santo Padre. Diplomaticamente, o «convertido» Suenens ao movimento, escreve ao Papa que pensava participar no Congresso, sem pedir licença, visto ser Cardeal, para deixar em liberdade a Santa Sé reagir a favor ou não.
A presença de um cardeal na cerimónia pública, implica, implicitamente, uma aprovação de Roma. Entretanto o secretário de Estado, Mons Benelli, pede-lhe para, em nome do Santo Padre, não assistir.
O cardeal Suenens escreve uma carta muito refletida ao Papa, dizendo-lhe que obedecia, mas havia um ponto a considerar, a escolha de Roma fora ideia sua, para mostrar o desejo de profunda união com o Papa e intensificar a comunhão com a hierarquia.
Dizia que estes homens e mulheres de boa vontade se submetiam à Igreja institucional, mesmo que lhes pedisse para não mais se reunirem. Escrevia também, que os bispos americanos se tinham pronunciado com prudência e delegaram um bispo como agente de ligação. Portanto, era conveniente que o bispo não deixasse o rebanho sem um pastor. A preocupação daqueles leigos era encontrar orientações de base, regras seguras, para que o movimento ao crescer tivesse o espírito de obediência filial e de respeito pela autoridade da Igreja. O seu desejo era ajudar a Igreja no renovamento espiritual do próximo Ano Santo. Nessa ocasião estarei em Roma para tratar de outros assuntos pastorais. Pedia ao Santo Padre, para que os dirigentes leigos não interpretassem a sua ausência como sinal de desconfiança ao não participar nas reuniões, mas gostaria de ter alguns contactos previstos para Roma com alguns dirigentes.
O secretário de Estado, Mons Benelli, escreveu ao cardeal Suenens dizendo-lhe que a sua carta foi bem recebida pelo Papa, que dissera merecer a sua confiança, e, se ele o desejasse, faria uma visita a Grottaferrata, ou até celebraria a Santa Missa.
O fruto do Congresso de Grottaferrata foi uma audiência privada concedida por Paulo VI a 15 congressistas, Suenens pediu para não estar presente para não implicar uma aprovação de Roma. O texto que o Papa leu exprimia um encorajamento.
Uma das dirigentes do Movimento, Verónica O’Brien, pediu a criação de uma Comissão teológica e pastoral. No ano seguinte reuniu-se uma equipa no arcebispado de Malines para elaborar o primeiro documento de orientação.
O Renovamento cresceu intensamente em todo o mundo, em 1973 reunia um Congresso nacional em Montreal, no Canadá e, ao mesmo tempo, um outro no estado de Indiana, nos E.U.A. O cardeal Suenens esteve presente nos dois congressos.
No dos E.U.A. estudou-se a função de Maria, Mãe de Jesus, esposa do Espírito Santo, no Renovamento, perante uma assistência de 30 mil católicos e participação de cristãos de outras proveniências, que refletiram sobre um ecumenismo autêntico que respeite a identidade de cada cristão.
Mais tarde, noutro Congresso nos E.U.A. com mais de 30.000, pessoas o cardeal Suenens pedia: «Senhor, ajuda-nos a apressar o encontro entre a Igreja «institucional» e a Igreja «carismática».
Nessa ocasião só estava presente um cardeal - Suenens - mas era acompanhado de uma dúzia de bispos e 600 sacerdotes.
Ao terminar a sua homilia, Suenens disse à multidão: «E, agora, se quereis um segredo para estar seguros de receber o Espírito Santo, eu vo-lo indico. Ele chama-se união a Maria». A multidão replicou com uma longa e vibrante ovação.
A um teólogo ortodoxo ao qual perguntaram no Concílio, que documentos escreveria a Igreja oriental para um Concílio, ele replicou: «Dois capítulos, um sobre o Espírito Santo e outro sobre Maria».

Funchal, 1 de Dezembro de 2013
† Teodoro, Bispo Emérito do Funchal

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